Fui criada num regime paternalista e meio militar (isso não exclui, claro, o amor e carinho que recebíamos todos os dias) e em meio a três irmãos, sim, três “machinhos”. Dessa forma, muitas vezes tive que calar a boca por força maior. Física.
Mas, enfim, não escrevo este texto para reviver ou resgatar esses possíveis traumas do meu passado, tampouco para simplificar a minha relação com a fala colocando-me como vítima na história. Escrevo, principalmente, para dizer que, se algum dia tentaram me calar, lamento, mas foi em vão.
O fato de não poder falar tanto e quanto gostaria, impulsionou-me a desenvolver ainda mais o meu discurso. Passei a prestar muito mais atenção no que as pessoas diziam e a analisar os seus discursos. E aprendi a me expressar com mais habilidade ainda, inclusive calada. Logo, o feitiço, sim, virou contra os feiticeiros. O silêncio forçado plantou em mim o desejo de cada vez mais usar do meu direito e dever de F-A-L-A-R, simplesmente.
Assim, sou eternamente grata àqueles que algum dia tentaram fechar as portas do discurso para mim. Pois eu, ora por curiosidade, ora por ousadia, soube abrir as janelas e através delas dei (e dou) vazão a todos os meus pensamentos e sentimentos mais profundos. À minha maneira e com o meu jeito de ser. Não abrirei mão dessa minha liberdade. Nunca. O que pulsa por trás da minha aparente delicadeza e fragilidade é muito mais forte do que se imagina. E tenho dito.
* Um dos treze títulos da obra de Clarice Lispector, A hora da estrela.