A vida tem a cor que você pinta. (Mário Bonatti)

domingo, 15 de setembro de 2013

Apegos...
Quanto mais o tempo passa (já são vinte e nove anos na estrada!), mais eu percebo o quanto sou apegada àquilo que, de alguma forma, fez de mim uma pessoa diferente. Por que não apegar-se?
Dia desses, eu ouvia uma palestra e o palestrante sugeria que, atualmente, o fato de tudo ser efêmero, de utilidade prática – usar e jogar fora ou trocar – faz com que as pessoas não queiram apegar-se a nada, nem a ninguém, até para não sofrerem quando tudo passar.      
Parece que o apego foi, praticamente, estigmatizado. Pois eu digo que remo contra a maré nesse sentido. Eu me apego mesmo, estimo, prezo, me afeiçoo. Sou muito apegada à minha família, pois ela é o meu maior tesouro, a minha verdadeira razão de existir, a minha segurança, por isso merece, sim, o meu melhor.  Sou apegada aos meus poucos e verdadeiros amigos, pois eles são a família que pude escolher a dedo. Sou apegada a sorrisos sinceros, palavras bonitas ditas com “verdade”, sem hipocrisias baratas. Sou apegada a pequenos objetos, que pertenceram, um dia, a pessoas preciosas (como um brinquinho de bijuteria, que ganhei da minha avó Zui. Ela o tirou da orelha pra me dar, acha mesmo que não vale guardar, estimar, me apegar a essa lembrança?). Sou apegada por momentos de alegrias, de tristezas ou cumplicidades, pois cada um deles influenciou (e influencia) direta ou indiretamente a constituição do meu ser, os meus fragmentos, a forma como encaro e enxergo a vida. Sou, sim, apegada a alguns “bens materiais”, como aquele livro que comprei com sacrifício em várias parcelas ou o anel que ganhei da minha mãe, que não é uma joia preciosíssima no sentido literal, mas que significa muito mais que isso, pois os sacrifícios que uma mãe faz pelo filho, por mínimos que sejam, carregam em si um afeto do tamanho do mundo e um valor inestimável.
Você deve estar pensando: “Nossa, quantos apegos! Essa pessoa deve sofrer demais.”. E eu lhe digo que sofreria muito mais, se fosse uma pessoa blindada, se não me deixasse atingir por nada, tampouco por ninguém. Seria muito mais triste, se eu coisificasse (essa é a palavra!) tudo e todos ao meu redor, e, de forma simplificada, não sofresse com as perdas e obtivesse de tudo e todos a garantia das minhas satisfações imediatas e descartáveis, apenas.
É claro que não desconfio da efemeridade da vida, de que tudo, um dia, passa. Mas, se tudo passa, que passe muito bem, já dizia o poeta. Que passe, sim, mas que não seja num vazio, numa eterna representação perfeita, barata e vã. Que hajam sentimentos, trocas verdadeiras, apegos sinceros, alegrias contagiantes, tristezas que humanizam, sorrisos capazes de mover e comover. Que haja, acima de tudo, VIDA. Ainda que ela esteja, como todos sabem, fadada ao fracasso, se levarmos em conta que todos vamos morrer, um dia. Então, enquanto o nosso dia não chega, que tal criarmos laços mais profundos? Fazermos algum sentido não só para nós, mas para o outro? Penso que só assim nos tornaremos, de alguma forma, eternos, na nossa efemeridade...