A vida tem a cor que você pinta. (Mário Bonatti)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Um trecho do livro "O lustre", de Clarice Lispector.

“Passava as manhãs sentada junto à mesa olhando os dedos, as unhas lisas e rosadas. Será que todo o mundo sabe o que eu sei? ocorria-lhe profundamente. Procurava distrair-se desenhando as linhas retas sem auxílio de régua – mas onde estava o encanto do trabalho? sem poder precisar melhor parecia-lhe que falhava a todo o instante. Às vezes falava alto algumas palavras e enquanto se ouvia parecia-lhe numa estranheza inquieta e deliciosa que ela não era ela mesma e surpreendia-se num susto que era também mentira. E depois noutra estranheza fraca e embriagada, ela era ela mesma. Dizia numa pequena voz aborrecida, balançando a cabeça; pois não estou contente, não estou nada contente. Ou entrava a viver numa exaltação íntima, numa pureza ardente cujo início era uma imperceptível falsidade. Sabia ainda fechar os olhos e cerrar-se numa força bruta. Entreabria então as pálpebras com delicadeza como deixando essa força escoar-se lentamente – e enxergava as coisas sob uma certa luz de crepúsculo dourado, flutuando num fulgor trêmulo, clareadas e finas; o ar entre elas era tenso e frio, os ruídos se aguçavam em agulhas velozes. Cansada, de súbito abria os olhos inteiros, deixava a força em liberdade – num estrondo mudo as coisas secavam cinzentas, duras e calmas, o mundo afinal.” (Clarice Lispector)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

HIPÓCRITA, EU?

Quem de nós nunca se deixou levar por uma imaginação politicamente incorreta e se deliciou com isso?

Quem de nós nunca sentiu asco de algo ou alguém que recendia a putrefação?

Quem, leitor ou leitora, de nós nunca desrespeitou seus pais, avós ou irmãos, passando ileso por isso?

Quem de nós nunca recebeu um beijo e limpou o rosto em seguida?

Quem nunca sentiu vontade de matar?

Quem nunca cometeu erros, erros e mais erros sem assumir que errou?

Quem nunca humilhou apenas pelo falso prazer que isso proporciona?

Quem nunca fez algo, mesmo sem vontade, só para agradar o outro?

Quem nunca foi (e ainda é) hipócrita?


Ao ler essas perguntas, tenho certeza de que nós nos indignamos e as respondemos com mentiras: “Eu? Nunca!”, “Nunca fiz isto, não.”, “Eu nunca agiria desta forma, imagina.”. Porém, é bastante provável que boa parte dessas perguntas, dessas situações, já tenha acontecido conosco ou, no mínimo, com alguém que conhecemos de vista. Mas parece impossível assumir.


Nós – eu, você, ele, ela, todos, enfim – muitas vezes preferimos a não verdade, preferimos aquilo que nos apresenta ao mundo como perfeitos, aquilo que agrada, aquilo que todos querem ver / ouvir. Penso que aí é que está a porta aberta para a infelicidade, a hipocrisia e as nossas frustrações.


Chamo a atenção para tudo isso para poder falar do NATAL. Famoso, sim. Mas, por quê?


Boa parte das pessoas reserva a sua bondade apenas para o último mês do ano; deixam para amar as pessoas apenas durante este período; e deixam para agradá-las apenas nestes dias, também. Não sejamos ainda mais hipócritas, todos precisam desse amor, dessa bondade e desse carinho durante o ano todo. Mas essa dedicação precisa ser sincera, honesta, verdadeira.


Se elevamos a potência da nossa hipocrisia numa época tão especial, é porque não estamos prontos para renovar as nossas energias e esperanças, e para sentir o verdadeiro espírito natalino.


Feliz ou infelizmente, hipócritas nós sempre seremos, em diferentes escalas. Mas que, pelo menos, sejamos hipócritas com o que há de mais sujo em nós, com aquilo que – por vezes – precisa ser escondido, mascarado. Não sejamos hipócritas com os pequenos gestos, com os votos de felicidades, com os sorrisos, as demonstrações de afeto e, principalmente, com o AMOR! Nós não merecemos tanto fingimento, nem precisamos disso. Nós não merecemos tão pouca dedicação para com a vida, com o seu verdadeiro sentido.


Deixo, aqui, meus sinceros votos de que 2011 seja melhor, menos cruel, mais esperançoso, alegre e feliz. Mas o ano só será melhor se nós o encararmos com bondade, esperança e vontade. E com todo o nosso ser, sentindo a vida pulsar em nós, pedindo para nos renovarmos a cada manhã, a cada gesto, a cada palavra sincera e amiga. Esse, pra mim, é o verdadeiro natal: acreditar e apostar na vida, com sinceridade, vontade e esperança de me fazer melhor, para melhor fazer parte deste mundo.


Beijo grande!

Vanessa.

domingo, 17 de outubro de 2010

O que dá sustância II.

Olá!!!

Por esses dias, estive pensando na proporção planos versus realizações (e na felicidade, também). Não me refiro a grandes planos, quase inalcançáveis. Refiro-me àqueles até bem pequenos, mesmo. Nos quais conseguimos ver o real sentido da vida. Percebi que a maior parte das minhas frustrações foram plantadas por mim mesma, quando planejava sem refletir direito, sem medir as consequências, ou até mesmo sem observar o absurdo do ato planejado.

Sendo assim, por outro lado, refletindo cá no meu cantinho, percebi, ainda, que as minhas maiores alegrias vêm dos dias bem aproveitados (e talvez não planejados). Dos pequenos gestos, dos sorrisos marotos, do juntar-se para nada fazer, das palavras de carinho e das pequenas realizações (dotadas – a meu ver – de grandes conquistas, como oferecer um sorriso para uma criança e receber em troca a sua inocência, amizade e até cumplicidade).

Desse modo, percebo que a felicidade não depende só dos planos bem executados. É claro que eles são importantes. Mas ela, a felicidade, vai muito além disso. Está presente em nós, atravessa as nossas manhãs (e manhas!) e permeia os nossos dias. Basta-nos um olhar mais aguçado, uma percepção mais dedicada (e delicada), que os nossos dias – planejados ou não – serão sempre como as manhãs de sábado ou domingo: leves, agradáveis e convidativas. E o melhor: felizes!

Por isso,

“Queda decretado

que todos los días de la semana

inclusive los martes

más grises, tienen derecho

a convertirse en mañanas

de domingo.”

(Thiago de Mello, trad.de Pablo Neruda)


“Me gustaría

que el año

comenzara

todos los sábados.”

(Mário Benedetti)

Tenho dito.

Obrigada a todos que escapam para este meu cantinho. Desejo que esta semana transcorra bem e traga-lhes boas novas a cada nova manhã.

Um beijo grande.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O que dá sustância!

Olá!!! Tudo bem?


O dia das crianças me faz pensar no pouco que lembro da minha infância. Os brinquedos, os amigos, as diversões. Que tempo bom!!!

Hoje, outras crianças me fazem reviver as sensações daquele tempo; me fazem perceber, mediante seus inocentes olhares, um mundo diferente, novo a cada dia, quase mágico.

Por isso, creio que o dia de hoje merece uma nova postagem. Dedicada a elas, as crianças, claro.


Talvez devêssemos ser como as crianças.
Assim, sempre alegres, cheias de energia e vontades.


Talvez devêssemos aceitar mais o que vem do outro.
Isso que chamam de energias, alegrias e vontades.



Talvez devêssemos aprender como as crianças.
Assim, sempre brincando, trocando vontades, energias e alegrias.



Tal ______________________________ vez ...



Raul, Rafaela e Raissa, numa de suas performances. Amores!!!




Lincoln, em um de seus aniversários.



Lavínia, minha priminha amada!!!




Vitor e Miguel, também numa de suas performances.
Quase morri de tanto rir, quando os vi dançando na frente do computador. Por isso a "qualidade" do vídeo.






FELIZ DIA DAS CRIANÇAS a todas essas criaturinhas lindas, queridas e amadas, que nos alegram tanto. São elas que nos dão sustância. Não!? =)



Beijão!!!!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma vitória em cada página.

Olá! Tudo bem?


Primeiro:

- Talvez a minha mania de organização não se estenda à organização dos meus horários, da minha agenda. =P Perdoe-me, leitor, pela demora em atualizar o blog.


Segundo:

- Após a - até prevista - "derrota" de Marina Silva, veio-me à cabeça este poema, de Bertold Brecht. (Obrigada professora Nanci por tê-lo dividido conosco!) Espero que goste(m)!


Perguntas de um operário letrado.

Quem construiu a Tebas das sete portas?

Nos livros constam os nomes dos reis.

Os reis arrastaram os blocos de pedra?

E a Babilônia tantas vezes destruída

quem a ergueu outras tantas?

Em que casas da Lima radiante de ouro

moravam os construtores?

Por onde foram os pedreiros

na noite em que ficou pronta a Muralha da China?

A grande Roma está cheia de arcos de triunfo.

Quem os levantou?

Sobre quem triunfaram os césares?

A decantada Bizâncio só tinha palácios.

para seus habitantes?

Mesmo na legendária Atlântida,

na noite em que o mar a engoliu,

os que se afogavam gritavam pelos seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.

Ele sozinho?

César bateu os gauleses.

Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?

Felipe de Espanha chorou quando sua armada naufragou.

Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.

Quem venceu, além dele?

Uma vitória em cada página.

Quem cozinhava os banquetes da vitória?

Um grande homem a cada dez anos.

Quem pagava suas despesas?


Tantos relatos.

Tantas perguntas.

(Bertold Brecht.)


Hasta!
;)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Corto "Diez minutos"

Olá, como estão ???
Para denunciar a frieza e a falta de humanidade nas nossas relações, el corto "Diez minutos", do diretor madrileno Alberto Ruiz Rojo. Tenho certeza de que você irá se identificar com a situação ou que conhece alguém que já passou por algo parecido.
Depois do vídeo, dividido em duas partes, posto trechos de uma entrevista com o diretor, tirada do site "Como hacer cine".
Espero que gostem!
Au revoir! =P

Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?v=X1amvlKLYCk

Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=munvQ5D8QDg&feature=related

Alberto Ruíz Rojo, director (27/07/2005 - chc )

¿Cómo surgió la idea de "Diez minutos"?
Pues de un gran sentimiento de rabia e impotencia, fruto de varios enfrentamientos con los servicios de atención al cliente de varias empresas. Me parece terrorífico este sistema que se está imponiendo, que para mi es una metáfora de un modelo de sociedad al que nos acercamos peligrosamente.

¿Cómo definiría a "Diez minutos"?
Creo que sobre todo es una historia muy humana, que parte de un argumento universal ("el hombre contra el sistema" o "idealismo contra realismo") llevada a una esfera muy actual.

Luego, la forma en que esta llevada a cabo, con una creo que muy acertada estructura del guión y una maravillosa interpretación de los actores (Gustavo Salmerón y Eva Marciel) la hacen muy atractiva.

¿Cómo ve las relaciones actuales entre las personas, que de eso se trata su pieza?
Pues creo que la sociedad española es muy dinámica y muchos conceptos están cambiando. Por una parte muchos convencionalismos desaparecen y la comunicación es más directa. Por otro lado, creo que el sentido de compromiso está desapareciendo por completo y todo el mundo se mueve en un absoluto esquema de improvisación muy ligado al propio interés.

Creo que en cierto aspecto vamos a un modelo de sociedad más abierto y equilibrado, pero un poco más egoísta.

¿Alguna vez se sintió como el protagonista?
Muchas, muchísimas. Yo soy muy "peleón", aunque a veces es agotador tener que estar con la espada en alto para que "no te pisen". Curiosamente después de haber hecho el corto, cuando me pasa algo parecido me dan ganas de decirle al teleoperador-a "¿pero usted no ha visto el corto "Diez minutos"?
Disponível em : http://comohacercine.com/articulo.php?id_art=1323&id_cat=2