A palavra falada sempre foi um
problema para mim. Por falar demais ou de menos. Ou, simplesmente, por falar na medida certa, mas
para as pessoas erradas.
Fui criada num regime paternalista e meio militar (isso não exclui, claro, o amor e carinho que recebíamos todos os dias) e em meio a três irmãos, sim, três “machinhos”. Dessa forma, muitas vezes tive que calar a boca por força maior. Física.
Fui criada num regime paternalista e meio militar (isso não exclui, claro, o amor e carinho que recebíamos todos os dias) e em meio a três irmãos, sim, três “machinhos”. Dessa forma, muitas vezes tive que calar a boca por força maior. Física.
Em casa não se podia falar à mesa durante as refeições. Meu pai entendia
como inapropriado para o momento. Isso para mim era um crime, já que sempre
compreendi esses momentos como reuniões, motivo de confraternização e partilha –
não só do alimento para o corpo, mas daquele que alimenta a alma.
Fora o tal regime, tive que
conviver com outra problematização da minha fala: a própria voz. Normalmente
alta e estridente, sempre que ouvida era considerada um atentado aos ouvintes. Não
sei se era a imagem que eu mesma fazia ou se os outros a faziam de mim. Mas... “taquara
rachada” era como os meus irmãos a denominavam.
Esse preconceito durou muuuuito tempo. E até hoje, quando ouço algo do
tipo “Nossa, te reconheci pela voz.” Ou “A mesma carinha e voz de menina.”,
sinto um calafrio e um soco no estômago como se voltasse no tempo.
Mas, enfim, não escrevo este texto para reviver ou resgatar esses possíveis traumas do meu passado, tampouco para simplificar a minha relação com a fala colocando-me como vítima na história. Escrevo, principalmente, para dizer que, se algum dia tentaram me calar, lamento, mas foi em vão.
O fato de não poder falar tanto e quanto gostaria, impulsionou-me a desenvolver ainda mais o meu discurso. Passei a prestar muito mais atenção no que as pessoas diziam e a analisar os seus discursos. E aprendi a me expressar com mais habilidade ainda, inclusive calada. Logo, o feitiço, sim, virou contra os feiticeiros. O silêncio forçado plantou em mim o desejo de cada vez mais usar do meu direito e dever de F-A-L-A-R, simplesmente.
Mas, enfim, não escrevo este texto para reviver ou resgatar esses possíveis traumas do meu passado, tampouco para simplificar a minha relação com a fala colocando-me como vítima na história. Escrevo, principalmente, para dizer que, se algum dia tentaram me calar, lamento, mas foi em vão.
O fato de não poder falar tanto e quanto gostaria, impulsionou-me a desenvolver ainda mais o meu discurso. Passei a prestar muito mais atenção no que as pessoas diziam e a analisar os seus discursos. E aprendi a me expressar com mais habilidade ainda, inclusive calada. Logo, o feitiço, sim, virou contra os feiticeiros. O silêncio forçado plantou em mim o desejo de cada vez mais usar do meu direito e dever de F-A-L-A-R, simplesmente.
Talvez aí esteja o principal motivo
para eu ter enveredado para as letras; ter me tornado leitora, mesmo sem ter
tido estímulos para isso; e amante de todas as expressões artísticas. Talvez o
meu forçado silêncio tenha me proporcionado ser, além de falante, acima de
tudo, uma boa e atenciosa ouvinte.
Assim, sou eternamente grata àqueles que algum dia tentaram fechar as portas do discurso para mim. Pois eu, ora por curiosidade, ora por ousadia, soube abrir as janelas e através delas dei (e dou) vazão a todos os meus pensamentos e sentimentos mais profundos. À minha maneira e com o meu jeito de ser. Não abrirei mão dessa minha liberdade. Nunca. O que pulsa por trás da minha aparente delicadeza e fragilidade é muito mais forte do que se imagina. E tenho dito.
* Um dos treze títulos da obra de Clarice Lispector, A hora da estrela.
Assim, sou eternamente grata àqueles que algum dia tentaram fechar as portas do discurso para mim. Pois eu, ora por curiosidade, ora por ousadia, soube abrir as janelas e através delas dei (e dou) vazão a todos os meus pensamentos e sentimentos mais profundos. À minha maneira e com o meu jeito de ser. Não abrirei mão dessa minha liberdade. Nunca. O que pulsa por trás da minha aparente delicadeza e fragilidade é muito mais forte do que se imagina. E tenho dito.
* Um dos treze títulos da obra de Clarice Lispector, A hora da estrela.
Tenho orgulho de ter uma amiga tão inteligente, expressiva e artística assim como você !!
ResponderExcluirLuv you...
Lanna ;)
Obrigada, Lanna. Você sabe que também sinto orgulho da nossa amizade. Aconteceu tão de repente e parece que nos conhecemos há anos! Beijos!
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