A vida tem a cor que você pinta. (Mário Bonatti)

terça-feira, 9 de março de 2010

Dialogando...

Olá!

Hoje, descobri um texto que dialoga com o meu Escapismos?. Então, por que não fazer uma nova postagem? O texto é do professor Ezequiel Theodoro da Silva. Boa leitura!


LEITURA, FUGA DA REALIDADE? (Ezequiel Theodoro da Silva, Editor)

“A idéia de leitura enquanto uma forma de escapismo, de fuga da realidade e da vida, corre solta por aí. Essa concepção é perigosa e, sob certos aspectos, alienante porque leva a crer que ao ler um texto o sujeito entra num outro mundo, distante e diferente daquele vivido em seu cotidiano.

Não nego existirem casos agudos de neurose "leitural". Já conheci muitas pessoas que, vivendo um estado de solidão extrema, voltam-se aos livros como lenitivos para conseguir suportar a passagem do tempo. Outras que, por terem perdido a capacidade de diálogo e sociabilidade com serem humanos de carne e osso, conversam unicamente com as páginas de livros e/ou outros textos que circulam por aí.

Conheço ainda pessoas que são verdadeiras "fúrias da leitura": devoram, com grande apetite, quaisquer tipos de texto na crença beletrista de que o erudito ou o intelectual tem de ler ininterruptamente e apreender, a qualquer custo, todo o universo da literatura. E nas suas conversas, citam sem parar as pétalas literárias, incapazes que são de levar um papo sobre assuntos mundanos.

Sem dúvida que a leitura envolve aspectos de reclusão, de busca de um cantinho calmo onde o leitor possa curtir os textos naquilo que ele(sic) têm de bom e de interessante. Julio Cortaza(sic), no conto "A Continuidade dos Parques", caracteriza muito bem o que é a imersão do leitor numa obra escrita, mas não deixa de mostrar também que o nosso diálogo com o texto artístico nos remete para a vida social concreta na medida em que a literatura é expressão da vida: nasce dela e a ela retorna na forma de um texto artisticamente lapidado.

No meu ponto de vista, a leitura envolve uma entrada no texto, um movimento da consciência em resposta aos desafios desse texto e uma saída ou uma retomada posterior do texto. Quer dizer: envolve um circuito hermenêutico e interpretativo por parte do leitor. Não para sonhar ou fugir da realidade, mas, pelo distanciamento que lhe é permitido, passar a enxergar melhor a realidade em que vive e atua.”

Disponível em: http://www.leituracritica.com.br/rev10/arg/arg01.htm


Au revoir! ;)

3 comentários:

  1. O leitor excessivo... Lembrou-me um tema que li recentemente, sobre os "hikikomoris": adolescentes japoneses que se privam de qualquer contato humano, vivendo trancados no quarto, tendo como mundo os livros e a Internet. Além de uma fuga insana, é uma negação da mais profunda natureza humana: a vida em comunidade.

    Esse conto do Cortázar explora bem, mesmo, essa imersão na leitura. E lembro, também, uma vez que li "A Máquina do Tempo" e quase via morloques e elois!

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  2. E, como disse a Maria Luísa, não devemos escapar de vez, né Fábio!? =P Ah, veja só, leitura excessiva = insanidade. Lembrou-me um tal de Don Quijote...

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  3. Interessante esse texto, Van! Me fez pensar nos outros tipos de leitura, como a que fazemos do cinema.

    Ontem, por coincidência, escutei um amigo dizendo, categórico, que não gosta de filme. Assim, pura e simplesmente. Aquilo me deixou sem reação.

    "Como assim", pensei, "nenhum tipo de filme?". Ele deve ter lido meus pensamentos e respondeu "nenhum tipo de filme".

    Uau! Sem saber o que falar, optei por apenas continuar pensando "com meus pensamentos" (rs)... e me surgiu uma dúvida: "como será a leitura de 'vida' dele, sem esse 'apoio' que é a arte?".

    Seu texto me trouxe uma resposta possível: é uma leitura não-lapidada.

    Obrigada por compartilhar!
    Abraço grande, querida!

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