Apegos...
Quanto mais
o tempo passa (já são vinte e nove anos na estrada!), mais eu percebo o quanto
sou apegada àquilo que, de alguma forma, fez de mim uma pessoa diferente. Por
que não apegar-se?
Dia desses,
eu ouvia uma palestra e o palestrante sugeria que, atualmente, o fato de tudo
ser efêmero, de utilidade prática – usar e jogar fora ou trocar – faz com que
as pessoas não queiram apegar-se a nada, nem a ninguém, até para não sofrerem
quando tudo passar.
Parece que
o apego foi, praticamente, estigmatizado. Pois eu digo que remo contra a maré
nesse sentido. Eu me apego mesmo, estimo, prezo, me afeiçoo. Sou muito apegada
à minha família, pois ela é o meu maior tesouro, a minha verdadeira razão de
existir, a minha segurança, por isso merece, sim, o meu melhor. Sou apegada aos meus poucos e verdadeiros
amigos, pois eles são a família que pude escolher a dedo. Sou apegada a
sorrisos sinceros, palavras bonitas ditas com “verdade”, sem hipocrisias
baratas. Sou apegada a pequenos objetos, que pertenceram, um dia, a pessoas preciosas
(como um brinquinho de bijuteria, que ganhei da minha avó Zui. Ela o tirou da
orelha pra me dar, acha mesmo que não vale guardar, estimar, me apegar a essa
lembrança?). Sou apegada por momentos de alegrias, de tristezas ou
cumplicidades, pois cada um deles influenciou (e influencia) direta ou
indiretamente a constituição do meu ser, os meus fragmentos, a forma como
encaro e enxergo a vida. Sou, sim, apegada a alguns “bens materiais”, como
aquele livro que comprei com sacrifício em várias parcelas ou o anel que ganhei
da minha mãe, que não é uma joia preciosíssima no sentido literal, mas que
significa muito mais que isso, pois os sacrifícios que uma mãe faz pelo filho,
por mínimos que sejam, carregam em si um afeto do tamanho do mundo e um valor
inestimável.
Você deve estar
pensando: “Nossa, quantos apegos! Essa pessoa deve sofrer demais.”. E eu lhe
digo que sofreria muito mais, se fosse uma pessoa blindada, se não me deixasse atingir
por nada, tampouco por ninguém. Seria muito mais triste, se eu coisificasse
(essa é a palavra!) tudo e todos ao meu redor, e, de forma simplificada, não
sofresse com as perdas e obtivesse de tudo e todos a garantia das minhas satisfações
imediatas e descartáveis, apenas.
É claro que
não desconfio da efemeridade da vida, de que tudo, um dia, passa. Mas, se tudo
passa, que passe muito bem, já dizia o poeta. Que passe, sim, mas que não seja
num vazio, numa eterna representação perfeita, barata e vã. Que hajam
sentimentos, trocas verdadeiras, apegos sinceros, alegrias contagiantes,
tristezas que humanizam, sorrisos capazes de mover e comover. Que haja, acima
de tudo, VIDA. Ainda que ela esteja, como todos sabem, fadada ao fracasso, se
levarmos em conta que todos vamos morrer, um dia. Então, enquanto o nosso dia
não chega, que tal criarmos laços mais profundos? Fazermos algum sentido não só
para nós, mas para o outro? Penso que só assim nos tornaremos, de alguma forma,
eternos, na nossa efemeridade...